o carnaval são 3 dias?



Qual será o problema?
A questão da tolerância de ponto relativamente ao Carnaval, tem promovido um debate que falha os reais problemas que se deveriam combater.
O problema não são os feriados. O problema não são os dias de férias. O problema não é os portugueses serem preguiçosos, preconceito dos países do norte confirmado a cada momento pelos nossos governantes. O que ainda nos vale, são alguns exemplos de multinacionais com portugueses a trabalhar ou a gerir, que nos mantém crentes que o problema é outro, como Nokia muito contente com operação em Portugal e ainda Autoeuropa paga prémios aos trabalhadores, o que apenas parece comprovar que ainda anda por cá gente competente.

Para Inglês ver?
Esta questão do Carnaval e dos feriados parece ser mais para "inglês ver" quer dizer para "alemão ver"! Esta questão tem que ser analisada conjuntamente com as férias e ainda por todos os benefícios existentes associados ao gozo de descanso! Talvez até as horas trabalhadas, incluindo as extraordinárias. Como se pode ver no artigo 7.º país com maior número de dias de descanso, (baeseado em dados do Observatório Europeu das Relações Laborais) não parece haver uma correlação tão forte assim entre dias de descanso e dias de férias. Os países com maior número de dias de descanso são: Suécia com 42 dias de descanso anuais, depois vem a Alemanha (40 dias), Itália (39), Luxemburgo e Dinamarca (38).
Podemos ver informação complementar em Infografia de feriadosPortugal fica entre os países menos feriados na europa e ainda Portugal país com poucos feriados.

O Carnaval devia ser de 5 dias
O Carnaval, festa que prepara para o posterior jejum, este ano até devia uma semana inteira, pois adivinham-se não 40 dias de jejum, mas pelo menos um ano. Mas o mais complicado da situação é o tempo de antecedência com que avisam destas questões. Vários municípios, empresas e pessoas individualmente agiram de acordo com determinadas expetativas que não foram cumpridas. Se estivessemos a falar de mercados internacionais e não de um país e suas divisões administrativas regionais, estaríamos a falar de fatores de instabilidade. Todos temos consciência de que a instabilidade é de evitar (exceto para os especuladores) e mina a confiança no sistema em análise. Qual de nós não ficaria insatisfeito, irritado ou mesmo irado se nos avisassem do cancelamento de um evento que mexesse com as nossas crenças, com as nossas férias e com o nosso dinheiro com uns parcos dias de antecedência? Compreendo a irritação de muita gente. Eu próprio costumo brincar ao Carnaval. A noite escolhida é tradicionalmente à segunda-feira.

Governo para quem?
Por outro lado, soubemos esta semana que a principal preocupação dos políticos portugueses é satisfazer os políticos alemães, cuja maior preocupação é satisfazer o parlamento alemão e os eleitores alemães. Parece que a principal preocupação dos políticos portugueses é satisfazer o parlamento alemão e eleitores alemães, como se pode ver por estes esclarecedores 53 segundos:
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Válvula de escape
Esta questão do Carnaval pode ser a primeira a correr realmente mal ao governo. Municípios de referência já vieram dizer que vão dar tolerância de ponto aos seus funcionários. Pode ser o primeiro revés para o Governo, visto que câmaras como a de Lisboa, a do Porto ou a Mealhada, já vieram dizer que darão tolerância de ponto. É um sinal da pouca aceitação de muitas decisões do executivo, se o Governo o quiser perceber. Este é daqueles assuntos que vai correr mal para todos: o Governo fica com má imagem (pior); quem investiu tempo e dinheiro pode não ter o lucro pretendido, pois muitas vezes apenas na terça-feira se atinge o valor suficiente para cobrir custos; o comum cidadão, que poderia utilizar estes dias como uma válvula de escapa para as tensões que se têm acumulado com as notícias negativas sempre presentes, e vai continuar com a tensão alta, nunca sendo certo o momento em que explode. Mais, dizem as boas práticas políticas, mesmo as alemãs, que as festas são importantes para manter o povo calmo. Servem de válvula de escape às preocupações do dia a dia, e fazem centrar as preocupações, frustrações e alegrias noutras áreas que não incomodam os promotores. (Veja-se o Circo Romano, os jogos na Grécia Antiga, os torneios da Idade Média, os famosos 3 F's - Fado, Futebol e Fátima). Nesse sentido, é ainda mais incompreensível que este pessoal esteja de tal forma obcecado com o trabalho que se esqueça de que aliviar a tensão em determinados momentos é fundamental para que as coisas corram bem!

Nietzsche e o burro do espanhol
Nietzsche dizia "muitos são os obstinados que se empenham no caminho que escolheram, poucos os que se empenham no objetivo." Esta parece ser uma frase síntese do que se está a passar. O objetivo já está a passar para 2.º plano. O principal é manter o caminho, o rumo determinados previamente e seguir-se-ão até ao fim, "custe o que custar" e sem pieguices. Não será isto excesso de zelo? Haverá por aqui um comportamento obcessivo com cortes, cortes, cortes, sem ter a noção do contributo que darão para a resolução dos problemas?
Sempre que estes temas vêm à discussão, lembro-me da história do burro do espanhol, que morreu exatamente quando se tinha habituado a viver sem comer. Espero não estarmos a experienciar o síndrome do burro do espanhol ao vivo e a cores! 

Quantos dias são o Carnaval?
Bem, parece que o governo já vem dizer, com toda a sua credibilidade e com a confiança a que nos habituou por não falhar qualquer promessa, que para o ano, o Carnaval poderá voltar a ser gozado em pleno.
Espero assim que para o ano se possa voltar a dizer: 
"a Vida são dois dias... e o Carnaval são três!" 

5 comentários:

Doces Rabiscos disse...

Gostei mesmo muito!

Joao V Pereira disse...

Excelente !

Pedro Paiva disse...

Doces e João:
Obrigado pelas palavras! Preferia que não houvesse qualquer motivo para escrever este post! B&A

Unknown disse...

O problema dos “feriados de Portugal” não está, claro, nos 13 feriados oficiais que temos – na prática, nunca são 13, visto que há sempre alguns que calham ao fim de semana.
O problema reside nos “feriados informais” – os dias que, não sendo oficialmente feriados, são gozados pela maioria da população (há sempre uns ‘burros de carga’, coitados, que trabalham nesses dias). Refiro-me a dias como o Carnaval, a Segunda-feira de Páscoa, os Santos Populares, o dia de Consoada e vários outros dias que são gozados como se de feriados se tratassem, à custa da tolerância de ponto. Se somarmos a estes “feriados informais” as “pontes” gozadas também à custa de tolerâncias de ponto, então o número de feriados em Portugal dispara (disparava?) para a casa dos vinte, vinte-e-tal.
O que incomoda realmente a opinião pública germânica – e, dado o sítio onde vivo, considero-me minimamente bem posicionado para falar nisso – não são tanto os 13 feriados que oficialmente se comemoram em Portugal, é o facto de haver dias de trabalho em que não se trabalha — isto é que não encaixa de maneira nenhuma na mentalidade germânica.

Pedro Paiva disse...

Viva Pedro,
Tendencialmente concordo contigo, como podes ver em http://meababel.blogspot.com/2010/06/feriados-vao-acabar-com-as-pontes.html
Quanto à opinião germânica, temos que a aceitar e ouvir, pois as suas decisões são importantes e têm impacte no dia a dia dos portugueses. No entanto, preocupa-me sempre a sua falta de empatia, ou seja, a sua falta de capacidade para entender os outros povos. É uma teoria dominante do pensamento único. Ou se trabalha como eles, ou não é positivo. Há formas diferentes de estar na vida, e eles têm dificuldade em aceitar. Já tiveram este sentimento, quando utilizavam este tipo de pensamento único relativamente às caraterísticas pessoais: só deveriam ser louros e de olhos azuis! Confesso-te que tenho algum receio do pensamento único alemão, e da grande alemanha que sempre foi o seu sonho e que estão a conseguir atualmente com argumentos económicos, ao contrário de tempos idos.
Aceito que possa ter o pensmento enviesado por estar no meio do furacão, mas é o que sinto!
Abc
Pedro