O professor X e a jornada de sucesso.



Era uma vez um vez um puto que gostava de ler... Chamemos-lhe X. Era um aluno razoável e discreto, embora gostasse de ser reconhecido, quando conseguia uma nota melhor. Até chegar à Universidade, levou uma vida simples, que cumpria com os requisitos das vidas que muitos pais planeiam para os seus filhos: escola, secundário, universidade, especialidade segura e que permitiria uma vida normal, emprego, casamento e assim por aí adiante. 

Até à entrada para a Universidade, a sua vida seguiu o planeado pelos seus pais. Uns tempos depois de chegar, a situação saiu dos trilhos pré-determinados: o X conheceu outros estudantes, alguns mais rebeldes e ativistas. Um deles tornou-se o seu primeiro. O seu exemplo. Aquele por quem ele faria muito. Aquele que queria ter como amigo durante toda a  sua vida. O Primeiro fazia parte da Associação e, a sua vertente de Engenharia, não lhe dava ferramentas para analisar as contas da Associação, pela qual era responsável. Começou a pedir ao X para lhe ver algumas contas e analisar o que poderia ser feito na apresentação de resultados nas assembleias.

O X, que não gostava da área fiscal nem do que a rodeava, nem tinha pensado alguma vez seguir a via da fiscalidade, por amizade fraterna, começou a aprofundar esses temas. 

Começou a ter algum destaque, pois o Primeiro dava-lhe os louros da análise. O entusiasmo foi-se apoderando dele e estudava de forma cada vez mais afincada. Começou a pensar que seria possível ser um especialista naquela área. Nos seus melhores sonhos, até se via como o maior especialista do mundo conhecido em fiscalidade.

Passou a estar determinado a se destacar e X mergulhou cada vez mais profundamente nos estudos. Pesquisava noite após noite, mesmo que não houvesse uma necessidade imediata daquele conhecimento e lia jurisprudências antigas e novas, devoravando livros sobre a especialidade. Não eram muitos dos que o rodeavam que considerassem ser um bom caminho, o que o X estava a trilhar. No entanto, X acreditava cada vez mais nas oportunidades desta via.

Com o tempo, sua dedicação começou a dar frutos. Carlos tornou-se um verdadeiro perito naquela área pouco explorada. A notícia de sua competência começou-se a espalhar, e ele passou a ser procurado por profissionais da área, advogados e até mesmo por juízes, que procuravam a sua opinião sobre questões específicas.

Cada projeto, cada desafio, cada questão era uma oportunidade de aprofundar ainda mais o seu conhecimento. X respondia a cada solicitação com minúcia e dedicação, o que só aumentava sua reputação.

X não era apenas reconhecido em círculos restritos; a sua fama ultrapassou as fronteiras da sua especialidade. Começou a ser convidado para palestras e conferências, partilhando a sua experiência e conhecimento com uma audiência mais ampla.

A sua reputação como especialista levou a que a remuneração dos seus pareceres fosse aumentando, pois muitos queriam a sua visão do assunto Oferecia pareceres especializados a empresas e profissionais que reconheciam o valor único da sua experiência.

X foi convidado para ser professor numa reputada Universidade, oferecendo-lhe uma papel relevante para que pudesse partilhar o seu conhecimento com a próxima geração de estudantes de direito. O que começou como uma escolha desafiadora e solitária transformou-se numa jornada de sucesso e reconhecimento, onde X não só superou as expectativas, mas também ajudou a moldar o futuro da sua área de especialização.

Parabéns, Professor X.

A Piscina dos Jacarés


Por Ad Meskens - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=34234396

Num sumptuoso evento realizado numa das magníficas propriedades de um elegante magnata, num determinado momento, decide interromper a música que embalava os presentes. Com o olhar fixo na piscina onde, com dedicação, mantém crocodilos australianos, proclama:

"Quem, ousadamente, se lançar na piscina, lograr atravessá-la incólume e emergir ileso do outro extremo, terá como recompensa a posse de todos os meus automóveis. Alguém, porventura, se disponibiliza para tal desafio?"

Atónitos, os convivas permanecem em silenciosa contemplação, e o magnata, não satisfeito com a ausência de voluntários, insiste:

"Aquele que, corajosamente, se aventurar na piscina, vencer as águas e emergir ileso na margem oposta, será agraciado não apenas com meus veículos, mas também com a concessão dos meus helicópteros. Algum cavalheiro ou dama se disporia a tal empreendimento?"

O silêncio mantém o seu domínio, e, projetando a sua voz, renova a sua oferta:

"Aquele que, com ousadia, se precipitar nas águas, transpuser a extensão da piscina e emergir vivaz do outro lado, terá em seu domínio não apenas os meus automóveis e helicópteros, mas, igualmente, a titularidade das minhas esplêndidas residências."

Entretanto alguém, audaciosamente, se atirou à piscina.

A cena que se desenrola é, sem dúvida, de extrema grandiosidade. Uma intensa batalha se instaura, e o intrépido protagonista defende-se com mestria, agarrando as gargantas dos crocodilos com pés e mãos e torcendo-lhes as caudas. Ah! Que magnífico espetáculo, repleto de violência e emoção. Após alguns minutos de terror e pânico, emerge o valoroso indivíduo, marcado por arranhões, contusões e praticamente desprovido de indumentária.

O magnata, aproximando-se respeitosamente, congratula-o e indaga:

"Ao agraciado, onde almeja a entrega de meus automóveis?"

"Muito grato, porém, não cobiço seus carros. Estou satisfeito com o que possuo", responde o destemido.

Surpreso, o magnata prossegue:

"E os helicópteros, onde pretende que sejam entregues?"

"Agradeço, mas não ambiciono os seus helicópteros. Acrescento ainda que tenho uma aversão quase patológica às alturas!"

Perplexo com a reação inusitada do homem, o magnata indaga:

"E as mansões?"

"Tenho uma moradia que me satisfaz plenamente. Desdenho as suas residências. Deixe-as para si. Nada do que lhe pertence me interessa."

Impressionado, o milionário pergunta, atônito:

"Se nada do que ofereci lhe suscita desejo, que anseios alimenta, então?"

"Unicamente encontrar o irresponsável que me impeliu a este desafio aquático!", responde, com sagacidade, o corajoso protagonista.

O canto do passarão...





Passarinho, Passarão...
Se o teu canto não encanta, 





pondera mudar de canto,
antes de mudares de floresta!

A crise do sushi ou o tubarão no tanque


A pesca e o problema do peixe fresco

Os japoneses sempre adoraram peixe fresco. A sua cultura utiliza peixe em muitos pratos e é a base da sua culinária. A partir de determinada altura do século passado, a indústria pesqueira deparou-se com um problema: os cardumes estavam a desaparecer da costa, o que os obrigou a pescar em distâncias cada vez maiores, com barcos maiores e com mais dias no mar, de forma a ter acesso aos cardumes com dimensão para alimentar toda uma população. Assim, o tempo entre a pesca e a entrega aos clientes foi aumentando. Esta questão levou a que os peixes perdessem algumas das suas características alimentares, e não fosse tão apetitoso, fazendo com que os japoneses já não apreciassem da mesma forma o peixe. Aqui estava um problema para a indústria pesqueira, que via as suas quotas em risco. Sabemos que, quando há problemas, entra a criatividade e o engenho para minimizar ou eliminar esse problema.

A solução
Assim, as empresas começaram a usar sistemas de congelação nos seus navios de pesca. Parecia uma boa solução, mas não foi. Apesar de congelarem o peixe em alto-mar, de forma a que o processo de congelação fosse o mais rápido possível, minimizando a perda de características do peixe fresco, os consumidores, com um gosto sensível e apurado ao longo de gerações a consumir peixe, percebiam a diferença entre peixe fresco e peixe congelado e não gostavam.

O mercado justificava continuar a procura de soluções alternativas que permitissem que o gosto dos peixes se mantivesse incólume.

A outra solução
Foto: Lu Zhao no Pexels

Encontraram uma nova solução e os barcos começaram a ter tanques enormes, onde os peixes poderiam ser transportados vivos, desde o seu local de pesca em alto-mar, até ao local de consumo. Nos navios, enfiavam os peixes num tanque, tipo “sardinha em lata”, para otimizar a utilização do espaço. Após algum tempo, ficavam sossegados, sem se debater nem mover, pois acomodavam-se ao espaço exíguo. Uma estratégia brilhante, não fosse a falta de contributo dos peixes, que se tornavam sedentários e chegavam aos locais de consumo, apesar de vivos, com sintomas de cansaço e abatidos, o que influenciava o seu sabor e textura. E os japoneses continuavam a perceber uma diferença grande entre o peixe fresco e o peixe trazido até ao prato com os processos alternativos. Apesar das várias soluções, parecia que ainda não eram suficientes para agradar os clientes.

O problema continuava a existir na ponte do navio: o peixe que entregavam aos seus consumidores tinha um sabor diferente do peixe fresco.

Então, era preciso continuar a procurar outras soluções que permitissem entregar o peixe com o sabor de peixe fresco. Como o poderiam fazer? Como encontrar uma forma de levar ao consumidor a pureza do sabor a peixe fresco?

Ainda outra solução
Após tentativas infrutíferas, podiam ser levados a desistir, e a pôr a culpa em “bodes expiatórios”, começando pelos clientes. Claro que seria o caminho mais rápido para os resultados mais… desastrosos! Não foi o que aconteceu. O que aconteceu foi o surgir de uma nova solução que ainda hoje é usada. Se agora é uma ideia lógica e com sucesso, peço que se coloquem comigo no tempo e na sala onde pela primeira vez foi manifestada esta ideia, ou o conceito que se trabalhou até chegar a esta ideia. É provável que tenha deixado muitas dúvidas e reticências nos participantes das reuniões onde se deu esta ideia. Claro que podemos dizer que é uma ideia simples. Todavia, como já dizia Leonardo da Vinci que “a simplicidade é o último grau da satisfação.” E sabemos que para chegar a uma ideia simples, podemos ter que percorrer um longo caminho com ideias e experiências que nos façam ir aprendendo até chegar a um resultado simples e que nos satisfaz. E a ideia de pôr um tubarão pequeno nos tanques, fez o seu caminho e ainda hoje é utilizada nos navios pesqueiros, que andam vários dias por fora.

Algum de nós se lembraria desta solução?

Ovo de Colombo
Talvez… Contudo, tal como o Ovo de Colombo, após a apresentação da solução, verificamos como é tão simples e, com certeza, lá chegaríamos, mais cedo ou mais tarde. A questão é que se alguma alma caridosa não tivesse dado esta ideia, se as equipas não a tivessem trabalhado, aperfeiçoado e operacionalizado, podia ser muito tarde para a indústria pesqueira, que poderia ter perdido parte dos seus clientes, que entretanto já se poderiam ter afeiçoado a outros pratos e reduzido os gastos com o peixe.

Assim, apesar de uns quantos peixes se tornarem comida de tubarão durante o processo de transporte, uma imensa maioria dos peixes chegavam saborosos e frescos ao prato do consumidor, que voltaram a consumir o alimento em grande escala, para gáudio dos pescadores.

Esta história tornou-se uma metáfora que pode ser usado na vida empresarial ou nas nossas vidas pessoais e podemos retirar desta história algumas lições interessantes, que deixo a cada um a oportunidade de o fazer.