A pesca e o problema do peixe fresco
Os japoneses sempre adoraram peixe fresco. A sua cultura utiliza peixe em muitos pratos e é a base da sua culinária. A partir de determinada altura do século passado, a indústria pesqueira deparou-se com um problema: os cardumes estavam a desaparecer da costa, o que os obrigou a pescar em distâncias cada vez maiores, com barcos maiores e com mais dias no mar, de forma a ter acesso aos cardumes com dimensão para alimentar toda uma população. Assim, o tempo entre a pesca e a entrega aos clientes foi aumentando. Esta questão levou a que os peixes perdessem algumas das suas características alimentares, e não fosse tão apetitoso, fazendo com que os japoneses já não apreciassem da mesma forma o peixe. Aqui estava um problema para a indústria pesqueira, que via as suas quotas em risco. Sabemos que, quando há problemas, entra a criatividade e o engenho para minimizar ou eliminar esse problema.
A soluçãoAssim, as empresas começaram a usar sistemas de congelação nos seus navios de pesca. Parecia uma boa solução, mas não foi. Apesar de congelarem o peixe em alto-mar, de forma a que o processo de congelação fosse o mais rápido possível, minimizando a perda de características do peixe fresco, os consumidores, com um gosto sensível e apurado ao longo de gerações a consumir peixe, percebiam a diferença entre peixe fresco e peixe congelado e não gostavam.
O mercado justificava continuar a procura de soluções alternativas que permitissem que o gosto dos peixes se mantivesse incólume.
A outra solução
Foto: Lu Zhao no Pexels |
Encontraram uma nova solução e os barcos começaram a ter tanques enormes, onde os peixes poderiam ser transportados vivos, desde o seu local de pesca em alto-mar, até ao local de consumo. Nos navios, enfiavam os peixes num tanque, tipo “sardinha em lata”, para otimizar a utilização do espaço. Após algum tempo, ficavam sossegados, sem se debater nem mover, pois acomodavam-se ao espaço exíguo. Uma estratégia brilhante, não fosse a falta de contributo dos peixes, que se tornavam sedentários e chegavam aos locais de consumo, apesar de vivos, com sintomas de cansaço e abatidos, o que influenciava o seu sabor e textura. E os japoneses continuavam a perceber uma diferença grande entre o peixe fresco e o peixe trazido até ao prato com os processos alternativos. Apesar das várias soluções, parecia que ainda não eram suficientes para agradar os clientes.
O problema continuava a existir na ponte do navio: o peixe que entregavam aos seus consumidores tinha um sabor diferente do peixe fresco.
Então, era preciso continuar a procurar outras soluções que permitissem entregar o peixe com o sabor de peixe fresco. Como o poderiam fazer? Como encontrar uma forma de levar ao consumidor a pureza do sabor a peixe fresco?
Ainda outra solução
Após tentativas infrutíferas, podiam ser levados a desistir, e a pôr a culpa em “bodes expiatórios”, começando pelos clientes. Claro que seria o caminho mais rápido para os resultados mais… desastrosos! Não foi o que aconteceu. O que aconteceu foi o surgir de uma nova solução que ainda hoje é usada. Se agora é uma ideia lógica e com sucesso, peço que se coloquem comigo no tempo e na sala onde pela primeira vez foi manifestada esta ideia, ou o conceito que se trabalhou até chegar a esta ideia. É provável que tenha deixado muitas dúvidas e reticências nos participantes das reuniões onde se deu esta ideia. Claro que podemos dizer que é uma ideia simples. Todavia, como já dizia Leonardo da Vinci que “a simplicidade é o último grau da satisfação.” E sabemos que para chegar a uma ideia simples, podemos ter que percorrer um longo caminho com ideias e experiências que nos façam ir aprendendo até chegar a um resultado simples e que nos satisfaz. E a ideia de pôr um tubarão pequeno nos tanques, fez o seu caminho e ainda hoje é utilizada nos navios pesqueiros, que andam vários dias por fora.
Algum de nós se lembraria desta solução?
Ovo de Colombo
Talvez… Contudo, tal como o Ovo de Colombo, após a apresentação da solução, verificamos como é tão simples e, com certeza, lá chegaríamos, mais cedo ou mais tarde. A questão é que se alguma alma caridosa não tivesse dado esta ideia, se as equipas não a tivessem trabalhado, aperfeiçoado e operacionalizado, podia ser muito tarde para a indústria pesqueira, que poderia ter perdido parte dos seus clientes, que entretanto já se poderiam ter afeiçoado a outros pratos e reduzido os gastos com o peixe.
Assim, apesar de uns quantos peixes se tornarem comida de tubarão durante o processo de transporte, uma imensa maioria dos peixes chegavam saborosos e frescos ao prato do consumidor, que voltaram a consumir o alimento em grande escala, para gáudio dos pescadores.
Esta história tornou-se uma metáfora que pode ser usado na vida empresarial ou nas nossas vidas pessoais e podemos retirar desta história algumas lições interessantes, que deixo a cada um a oportunidade de o fazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário