A cigarra e a formiga
Miguel Macedo veio relembrar a fábula da cigarra e da formiga. Provavelmente, é identificado pelo povo como estando na classe das cigarras. Com justiça ou não, o que é certo é que caiu na tentação de vir relembrar uma fábula não esquecida, e já analisada à lupa de muitas perspetivas. Provavelmente, Miguel Macedo identifica-se como uma formiga. Mas não é visto pelas formigas como um dos seus. Qualquer político que venha falar desta fábula, está antecipadamente rotulado. É, com certeza, uma cigarra. Já há um preconceito estabelecido e difícil de ultrapassar.Assim, depois de dizer que Portugal não pode ser “país de muitas cigarras e poucas formigas”, tem que vir explicar o que quis dizer através de quis homenagear trabalhadores quando falou de cigarras e formigas, e esta necessidade é sinal de que a mensagem não passou. Corrigir mensagens anteriores significa que o caldo entornou e já meteu a pata na poça.A CGTP
A CGTP tem um novo líder e parece que há uma lufada de ar fresco. Claro que esta frase é arriscada, mas é fundamentada em ver um sindicato que, mais do que propor lutas e greves, vem propor 4 medidas concretas e fasíves, que o governo devia considerar, como se pode ver em CGTP propõe alternativas. O governo está numa situação em que já é difícil um ponto de inflexão, mas depois da confusão da TSU, seria uma forma de demonstrar a sua boa-fé e a preocupação com quem mais necessita, promovendo a tão propalada equidade. A ver vamos, como dizia o cego.Sozinhos é mais difícil
Apesar de tudo o que se possa fazer, sinto que as medidas do governo ou que possam ser tomadas de forma isolada, dificilmente serão eficazes na luta contra a crise que tem contornos globais. Preocupou-me ver uma reunião entre os países que estão com a corda na garganta, e ver que Portugal não esteve presente.Assassinatos económicos
Mas, o que realmente me preocupou, foi ler a entrevista dada por John Perkings, auto-intitulado assassino económico e que escreveu o livro "Confessions of an Economic Hit Man" para explicar o que fazia para assassinar economicamente os países selecionados. Vale a pena ler esta entrevista de início ao fim em:http://www.ionline.pt/mundo/john-perkins-portugal-esta-ser-assassinado-muitos-paises-terceiro-mundo-ja-foram. Fica aqui um dos excertos mais interessantes da entrevista:
"No fim do ano passado escreveu um artigo onde afirmava que a Grécia estava a ser atacada por assassinos económicos. Acha que Portugal está na mesma situação?
Sim, absolutamente, tal como aconteceu com a Islândia, a Irlanda, a Itália ou a Grécia. Estas técnicas já se revelaram eficazes no terceiro mundo, em países da América Latina, de África e zonas da Ásia, e agora estão a ser usadas com êxito contra países como Portugal. E também estão a ser usadas fortemente nos EUA contra os cidadãos e é por isso que temos o movimento Occupy. Mas a boa notícia é que as pessoas em todo o mundo estão a começar a compreender como tudo isto funciona. Estamos a ficar mais conscientes. As pessoas na Grécia reagiram, na Rússia manifestam-se contra Putin, os latino-americanos mudaram o seu subcontinente na última década ao escolher presidentes que lutam contra a ditadura das grandes empresas. Dez países, todos eles liderados por ditadores brutais durante grande parte da minha vida, têm agora líderes democraticamente eleitos com uma forte atitude contra a exploração. Por isso encorajo as pessoas de Portugal a lutar pela sua paz, a participar no seu futuro e a compreender que estão a ser enganadas. O vosso país está a ser saqueado por barões ladrões, tal como os EUA e grande parte do mundo foi roubado. E nós, as pessoas de todo o mundo, temos de nos revoltar contra os seus interesses. E esta revolução não exige violência armada, como as revoluções anteriores, porque não estamos a lutar contra os governos mas contra as empresas. E precisamos de entender que são muito dependentes de nós, são vulneráveis, e apenas existem e prosperam porque nós lhes compramos os seus produtos e serviços. Assim, quando nos manifestamos contra elas, quando as boicotamos, quando nos recusamos a comprar os seus produtos e enviamos emails a exigir-lhes que mudem e se tornem mais responsáveis em termos sociais e ambientais, isso tem um enorme impacto. E podemos mudar o mundo com estas atitudes e de uma forma relativamente pacífica.
Mas as próprias empresas deviam ver que a ditadura das multinacionais é um beco sem saída.
Bem, penso que está absolutamente certa. Há alguns meses estive a falar numa conferência para 4 mil CEO da indústria das telecomunicações em Istambul e vou regressar lá, dentro de um mês, para uma outra conferência de CEO e CFO de grandes empresas comerciais, e digo-lhes a mesma coisa. Falo muitas vezes com directores-executivos de empresas e sou muitas vezes chamado a dar palestras em universidades de Gestão ou para empresários e também lhes digo o mesmo. Aquilo que fizemos com esta economia mundial foi um fracasso. Não há dúvida. Um exemplo disso: 5% da população mundial vive nos EUA e, no entanto, consumimos cerca de 30% dos recursos mundiais, enquanto metade do mundo morre à fome ou está perto disso. Isto é um fracasso. Não é um modelo que possa ser replicado em Portugal, ou na China ou em qualquer lado. Seriam precisos mais cinco planetas sem pessoas para o podermos copiar. Estes países podem até querer reproduzi-lo, mas não conseguiriam. Por isso é um modelo falhado e você tem razão, porque vai acabar por se desmoronar. Por isso o desafio é como mudamos isto e como apelar às grandes empresas para fazerem estas mudanças. Obrigando-as e convencendo-as a ser mais sustentáveis em termos sociais e ambientais. Porque estas empresas somos basicamente nós, a maioria de nós trabalha para elas e todos compramos os seus produtos e serviços. Temos um enorme poder sobre elas. Por definição, uma espécie que não é sustentável extingue-se. Vivemos num sistema falhado e temos de criar um novo. O problema é que a maior parte dos executivos só pensa a curto prazo, não estão preocupados com o tipo de planeta que os seus filhos e os seus netos vão herdar."
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