Uma das características modernas
da civilização é o respeito pela perpetuação das espécies. Um avanço
civilizacional deu-se, quando se generalizou a convicção que, a ser verdade que
estamos de passagem pelo universo, temos que assegurar a sobrevivência de quem
vem, e isso em termos coletivos implica preservar as interações homem/natureza
que assegurem o equilíbrio dinâmico da vida. Desta maneira há muita gente
inteligente a trabalhar para que se reconheçam aquelas espécies que estão em
risco de extinção, por forma a elaborar políticas que evitem esse fim trágico.
Consequentemente é moralmente indefensável a exterminação de espécies vivas.
Neste circunspecto eu tenho uma
opinião diferente e mesmo antagónica.
Sou partidário da extinção de
espécies.
Explicar porquê é o meu ponto de
partida para esta alocução. Não pretendo convencer ninguém para a minha causa.
Tão só expor os pressupostos e deixar a questão no pensamento: e não se pode exterminá-los?
Em bom rigor, eu não sou
partidário da extinção de espécies, tão só de UMA espécie. Trata-se de uma ave
de arribação, sem habitat exclusivo, existe um pouco por todo o mundo com
preponderância nas cidades. Os taxinomistas chamam-lhe: totos omni vulgaris
A comunidade não científica
conhece-os pelo seu nome vulgar, cuja construção corresponde a uma pequena
aliteração do nome científico: Tótós.
Eu sou contra os tótós!
Esta minha súbita talibanice
contra os totós é de agora. Dantes convivia com eles, com um grau elevado de
indiferença, mas agora fartei-me.
O que fez espoletar este meu
estado de espírito foi a leitura há dias da notícia, em que um Tribunal de
Coimbra absolveu 3 ex-administradores dos CTT dos crimes de participação no
negócio e de gestão danosa, de que estavam acusados. O seu empregador, os CTT,
tinha entendido como muito estranha a venda de um imóvel, que era sua
propriedade, e que tinha ocorrido há uns anos atrás. Vai daí queixou-se à Justiça.
Recordemos o que veio a público:
a sede dos CTT em Coimbra, na Avenida Fernão de Magalhães, foi vendida pelos
CTT, num determinado dia, por escritura pública outorgada num cartório notarial
de Coimbra, por 1 milhão de contos, da parte da manhã, e ao início da tarde, no
mesmo cartório notarial, foi vendida outra vez, pela recém-compradora, a um
Fundo Imobiliário detido pelo BES, por 5 milhões de contos. Os valores podem
não ter sido bem estes, mas a proporção foi de 1 para 5, à escala de milhão, no
mesmo dia, um par de horas depois. O SIMPLEX permite estas coisas: escriturar,
registar, pagar, tudo no mesmo dia.
Um Tribunal coletivo entendeu que
não ficou provado que algo de ilegal e reprovável tenha acontecido, por obra
dos administradores que decidiram o negócio.
E eu lá pensei: foi então obra de
tótós. Só pode ter sido. Ou foi tótó o vendedor porque vendeu por um o que
podia, se tivesse procurado melhor, ter vendido por cinco. Ou foi tótó o
comprador porque afinal comprou por cinco, algo que só valia um. Ou foram totós
os que analisaram o negócio, que não repararam que afinal isto está tudo
ligado, e fizeram o favor de “não ser feita Justiça”. Qual dos papéis é o do
Tótó? Não sei. Por isso há que acabar com eles.
Sou contra os totós e pronto.
Pergunto, e não podiam exterminá-los?
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