O debate sobre temas que envolvam animais alcança, normalmente, dimensões irracionais. Foi, é e será assim com as touradas, foi, é e será assim com o ataque de animais a seres humanos, foi, é e será assim com testes de diversa ordem nos animais, é e será assim com a versão vegetariana do ser humano, e é assim com o debate sobre animais domésticos e deveres e direitos dos próprios e de seus donos. A dimensão da questão ultrapassa o debate racional e apela às emoções mais básicas, primárias e incontroláveis, colocando-o num nível de discussão animalesca, com cacarejos, grunhos, arrulhos, guinchos, bramidos e até chilreios de diversos atores, provocando uma desorientação coletiva pouco desejável.
Temos que ser mais tolerantes e pacientes com opiniões contrárias, mesmo que radicais, par que se possa fazer um debate sério. Por exemplo, Ferreira Fernandes, numa das suas habituais e pragmáticas crónicas do DN, apresenta-nos um breve ensaio sobre a desorientação no que aos animais diz respeito. Mesmo que se esteja completamente em desacordo com as suas palavras, faríamos bem em ler e analisar as mensagens contidas neste texto. Ainda por cima, está escrito com um humor sério e reflexivo:
"Cortes já chegaram aos quadrúpedes
Portanto já sabem: são, no máximo, quatro animais por apartamento. E, atenção, cães, só dois; gatos é que podem ser quatro. Não, não podem ser três chihuahua, nenhum conta por gato, nem chamando Bichana ou Sissi ao terceiro. Enfim, os nossos governantes mostram que não estão desatentos às mudanças da sociedade portuguesa. Ontem havia que controlar as entradas dos estudantes nas universidades. Agora que a juventude se vai embora, a prioridade é o numerus clausus dos animais nos apartamentos. Se isto não é a reforma do Estado, o que é uma reforma do Estado?! Estamos, pois, perante uma legislação pensada e cirúrgica, embora desta vez dedicada só aos pequenos quadrúpedes. As carraças (oito patas) num fox terrier até podem ser 36, mas só conta o cão. Esse fox terrier e um labrador com pulgas (seis patas) também só contam como duas pessoas jurídicas, dois cães, portanto, dentro da norma. Porém, se o Bobi e a Laica tiverem uma ninhada, evidentemente os cachorros têm de sair da sua zona de conforto e emigrar para outro apartamento. As atuais e tão necessárias medidas devem ser consideradas somente as precursoras de um pacote que se estenderá em breve à cabra na banheira do 5.º direito e ao burro na varanda, símbolos da economia subterrânea que tem de ser combatida. Os peixinhos de aquário aguardam outra abordagem porque o direito marítimo, como se sabe, é muito específico. Caso bicudo vai ser com as lagartas: quando virarem borboletas herdam o precedente direito ao apartamento?"
Este tema é importante e os animais são uma parte relevante na nossa vida. Estamos ligados a eles de uma forma ou de outra e estou convicto que todos gostamos ou gostámos nalgum momento de um animal. Seja um crocodilo, uma jibóia, um papagaio, um macaco ou os mais tradicionais gatos, sapos, ratos, patos ou cães. Há no entanto, algumas coisas relacionadas com animais que me tiram do sério e que me desafiam a minha paciência, mas que tento interpretar e analisar os problemas contidos em frases mais radicais:
* Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto dos animais: esta frase incomoda-me bastante. Fico sempre com a sensação que estas pessoas têm problemas graves de relacionamento interpessoal e apenas os seus animais (não todos, com certeza), têm paciência para aturar crises, depressões, invejas ou outros males mal tratados. Por muito que gostemos de animais, as pessoas têm que estar sempre em primeiro lugar. E um dedo apontado ao outro, implica sempre 3 dedos apontados ao acusador. Apontem lá o fura-bolos e vejam como fica o mindinho, o seu vizinho e o pai de todos!
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* Sete anos de estudos técnicos sobre um assunto, mas que não é alvo de qualquer abordagem política? Quando será? Está planificado o momento da discussão? Ou é trabalho para num determinado momento ser triturado e/ou incinerado? Fico contente por ver que esta não é a prioridade. Subscrevo. Mas é muito tempo gasto em estudos técnicos para um assunto não prioritário.
"a ministra da Agricultura mostra-se surpreendida com a discussão em torno deste assunto, que está "há sete anos" ao nível de "trabalho técnico dos serviços do ministério", mas nunca chegou a ser tema de discussão política, "e muito menos de decisão do Governo". (...) Não gastei um minuto a olhar para isto, porque tenho muitas outras prioridades. Esta legislação não é uma prioridade", garante Assunção Cristas."
Ler mais: Expresso: limitação do número de animais domésticos
* comparações incomparáveis: comparar o número de animais com o número de filhos? A prova que temas complexos dão nós no cérebro a pessoas que acredito serem inteligentes, caso contrário, a bastonária da ordem dos veterinários não faria a pergunta, "Alguém impede alguém de ter 10 filhos?". Sr.ª Bastonária, este é um dos casos em que temos que ter presente que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Não se misturam! Ler mais em: Público: mais de dois cães por apartamento?
Esta é uma discussão importante, embora a classifique como não urgente, pois há legislação suficiente para, sendo bem aplicada e acompanhada, vigiar os problemas dos animais. Mas a nossa esquizofrenia legislativa, produz leis atrás de leis, mostrando uma produtividade imensa na sua produção, mas esquecendo a sua aplicação e fiscalização.
Agora, para descomprimir e como os temas sérios devem ser tratados com humor e boa disposição, nada melhor do que ficar com a Rádio Comercial e o Vasco Palmeirim e a sua imortalização do tema:
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