Há quem lhe chame acordo ortográfico. Eu prefiro chamar pato ortográfico. É um pato porque há a combinação entre partes sobre um conjunto de regras gramaticais a utilizar. É um pato, porque uma das partes conseguiu ter clara ascendencia sobre a outra. Parece-me que é inevitável a evolução da lingua. É dinâmica! Mas com este pato, ficamos com a clara sensação que uma das partes foi comida com laranja.
Mas o pato está aí, e o melhor é começar a treinar sobre o tema e tentar aplicar as regras definidas no pato.
Começo com um texto recebido! ^_^ DP.
"UM " C " A MAIS!
EXCELENTES CONSIDERANDOS ...
Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o C na pretensão de me ensinar a nova grafia.
De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa.
Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim.
São muitos anos de convívio.
Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes CCC,s e PPP,s me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância.
Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim!
Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí.
E agora as palavras já nem parecem as mesmas.
O que é ser proativo?
Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o R, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato.
Caíram hifenes e entraram RRR,s que andavam errantes.
É uma união de facto, e para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem.
Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os EEE,s passaram a ser gémeos, nenhum usa ( ^^^) chapéu.
E os meses perderam importância e dignidade; não havia motivo para terem privilégios; assim, temos janeiro, fevereiro, março, são tão importantes como peixe, flor, avião.
Não sei se estou a ser suscetível, mas sem P, algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.
As palavras transformam-nos.
Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos.
Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do C não me faça perder a direção, nem me fracione, e nem quero tropeçar em algum objeto.
Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um C a atrapalhar."
4 comentários:
Apesar de bem humorado o texto acima tens imensa verdade!
Abraços à lusofonia
Subscrevo Prof. Machado!
AA
Ai Pedro... eu ainda não me habituei sequer à ideia de ter que mudar. Mas vou seguir o exemplo do autor do texto: para já mudar o meu dicionário no PC... acho que esta ação vai criar uma reacção que é automaticamente corrigida até eu me habituar.
Já não sei escrever Português clássico e ainda não sei como escrever português "contemporâneo" lol
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