Tem sido um início de outono
convidativo a práticas ao ar livre. Quem me conhece sabe que sou defensor, com
os meus alunos e nas minhas aulas, de exercícios práticos, de visitas in loco
àquilo que está a ser dado e vivenciado. Quem me conhece sabe também que quando
posso privilegiar o que é meu, o que me é próximo, o que me é querido, faço-o
sem despudor e com afinco.
Ora, tem sido apanágio meu trazer
ao Luso e ao Buçaco as turmas que tenho, quer na Figueira da Foz, quer em
Oliveira do Bairro. Esta sexta-feira não foi exceção. Os meus alunos do curso
de Técnico de Apoio à Gestão visitaram o Engarrafamento da Água do Luso e da
Água do Cruzeiro, onde fomos recebidos estrondosamente bem. Como aliás já o
havíamos sido no ano passado. Ficaram a conhecer a produção, as gamas de
produtos, os armazéns, como se faz a gestão de stocks, entre outros.
A manhã começou com os 15 alunos
a tomar o pequeno-almoço num dos cafés mais centrais do Luso e depois da visita
à fábrica, parámos num restaurante do Luso para um almoço, que estava de “se
lhe tirar o chapéu”, conjugado com uma enorme simpatia local.
A tarde, como não poderia deixar
de ser, foi passada no “nosso” majestoso Buçaco, no “nosso” riquíssimo
património natural, naquele que deveria ser o “nosso” primeiro ponto de
destino, naquele que deveria ser o “nosso” primeiro interesse em mostrar
enquanto habitantes do Luso, enquanto bairradinos que somos…
E fomos! E teríamos gostado muito…
não fosse a perseguição que nos foi feita porque realizámos a visita com um
guia na mão, impresso pelo professor (neste caso eu) e com “espacinhos” para
preencher, para que mais facilmente fosse dado a conhecer e a fixar pelos
alunos o que “temos” de melhor.
Fomos abordados, mais do que uma
vez, sem qualquer tipo de cumprimento prévio, com um rosto sisudo (leia-se
antipático e carrancudo) e um: “estão a fazer uma atividade? Têm de pagar!”.
Tentámos explicar que se tratava de uma visita. O mesmo rosto carrancudo
acrescentou que “uma visita paga-se!”. Ao que respondemos e perguntámos: “então
andamos só a passear! Passear paga-se?”. Do outro lado, do lado de quem deveria
receber aqueles que se quer que voltem, voltámos a ser interrogados (como se
fossemos seres estranhos aterrados no Buçaco…) “mas vêm todos com essas capas
na mão porquê?”. Enfim… os pulmões encheram-se de ar e embora não fosse a
resposta que nos apetecia com certeza dar naquele momento, respondemos: “porque
temos muitos lá em casa. Quer uma?”.
E teria sido um ato isolado, mas
não foi…
A história repetiu-se mais duas
vezes… mudou a gramática, mudou a argumentação, mudou a personagem principal,
mas não mudou a atitude, o descoro, a insensatez…
Houve uns tempos em Portugal que
mais do que duas pessoas juntas era considerado complô e as pessoas eram
levadas à PIDE. Hoje, amigos, na mata do Buçaco, um passeio em grupo, com mais
de duas pessoas e com papéis na mão é uma atividade organizada e leva ao
pagamento de 100 Euros + IVA, mesmo que não consumam qualquer tipo de recurso
da mata ou de quem faz a sua gestão. Mesmo que não incomodem os passarinhos,
mesmo que não recolham (e bem) qualquer espécie de arbusto, árvore, folha,
bolota…, mesmo que nem sequer levantem pó…
E, mesmo que de uma atividade
organizada se tratasse, estou em crer que os modos deveriam ser outros e a
abordagem completamente diferente. Afinal de contas, queremos que as pessoas
voltem, certo?... hum… ou talvez não…
Tenho… ou melhor… tinha mais uma
turma para trazer ao Buçaco. Provavelmente já não trago… e sinto pena de não
trazer…
O pequeno-almoço que tomámos no
Luso será, provavelmente, tomado na vila do Gerês… o almoço será num qualquer
restaurante da Serra do Gerês e o lanche, que tão bem nos soube no café da Mata
do Buçaco ao lado da lojinha da Fundação, será tomado num qualquer café da
Serra do Gerês! Ou seja, todos os recursos que no fundo gastámos, pagámos. E
esse dinheiro foi deixado, quer no Luso, quer no Buçaco…
E, por isto, estamos mais pobres…
e continuaremos mais pobres… porque enquanto a pobreza for de espírito e o
acolhimento de tão “alto” nível haveremos de fugir para outras bandas…
E o Buçaco que é tão “nosso”… que
pena…
O que valeu foi estarmos no
Buçaco e lá o ar é tão puro e tão bom para respirar fundo!
Ah, e tirámos fotos, que ainda
são “de borla” e ninguém se lembrou de “taxar”…
Foto: Miguel Midões
[Este texto não é para
concordarem ou deixarem de concordar. Este texto não se trata de qualquer
posição política ou partidária (está na moda agora porque estamos em eleições).
Este texto é apenas uma opinião pessoal e não foi escrito com o consentimento
das restantes 15 pessoas envolvidas nesta ação. Este texto quer apenas mostrar uma
tristeza. Este texto é um texto de revolta… Este texto serve apenas para
descrever um ato isolado, porque isso não se ponham a relacioná-lo com outras
coisas. Este texto é apenas um texto. As ações, essas, são dos homens…]
Miguel Midões
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