Carnavais!

A Associação de Carnaval da Bairrada (ACB), conjuntamente com a generalidade das escolas de samba da região, tiveram uma excelente iniciativa: realizar um Carnaval de Verão.
Houve aspectos positivos dos quais se realçam:
- A iniciativa em si;
- A participação activa das escolas na realização do evento com a respectiva responsabilização: lucros partilhados vs prejuízos partilhados;
- Apresentação noturna gratuita;
- Evento ao ar livre;
- Capacidade e criatividade musical dos sócios da mangueira (em termos musicais demonstraram estar um patamar acima das outras escolas, mesmo assumindo-me como um leigo na matéria);
- A iniciativa de apresentar uma cenografia diferente por parte do grupo Real Imperatriz, com a senhora/menina a dançar em cima do palco, saindo dos moldes assumidos como tradicionais num Carnaval (Nem tudo tem que ser feito como sempre foi).
Houve também alguns aspectos que considero negativos:
- Não participação do Batuque - uma das escolas mais antigas do corso carnavalesco do entrudo;
- A batucada muito parecida em quase todas as escolas de samba. Se não estivesse a olhar para o palco e a "voz-off" não avisasse da mudança dos actores em palco, afirmaria convictamente que esteve sempre em palco o mesmo grupo (Assumo +1 vez que sou um leigo na matéria).
Há alguns aspectos que podem ser melhorados, com impacte significativo no evento: - Divulgação do evento: Se não comunicar as pessoas não adivinham que existe o evento e temos alguns potenciais visitantes que me parece que não são adequadamente convidados, como por exemplo pessoas de Coimbra e Baixo Mondego, de Aveiro, da restante Bairrada, das terras altas (Highlanders: Mortágua, Penacova, Viseu, Sta Comba Dão; Poiares; ...))
- Acolhimento e promoção da participação de potenciais partes interessadas - Hotéis, Autarquias, Associações diversas, Institutos de Turismo, Escolas Superiores e Universidades, ...
A ACB deverá ter um plano de actividades anual (ou multianual) e fazer a promoção e as relações públicas desde cedo, tentando que apareçam mais grupos de concelhos próximos. Imaginemos que, tal como o que apareceram Os Amigos de Tijuca, surgiam grupos de Curia/Aguim/Anadia, Pampilhosa/Paço/Larça, Oliveira do Bairro, Águeda, Penacova/Mortágua, Coimbra/Baixo Mondego? Será que existem elementos destas áreas geográficas nas escolas actuais? Será que aceitariam os desafios de, conjuntamente com as associações/freguesias/clubes locais impulsionarem novas escolas? O conceito de spin-off da área empresarial, encaixaria aqui muito bem. Mas seria um trabalho de formiga, que só pessoas com capacidade de reagir positivamente a situações desfavoráveis seriam capazes. Provavelmente dar-se-ia uma dimensão muito maior ao Carnaval. etc. Provavelmente a escala permitiria que a própria ACB contratasse um professor de samba (música/dança) que desse apoio a todas estas escolas (ou outra função que melhorasse significativamente aspectos importantes dos grupos, mas reforço esta ideia da música porque a execução musical dos Sócios deixou-me maravilhado). Provavelmente estariamos a falar de um envolvimento nas actividades de um número significativo de pessoas com os respectivos acompanhantes.
Outro factor muito importante é a capacidade de comunicação da ACB, e a capacidade de ter um marketing criativo e arrojado, coerente com o que se pretende para o Carnaval. E penso que neste âmbito tem havido algum trabalho, mas não de uma forma profissional. É claro que o amadorismo e o trabalho das pessoas que ao longo destes anos têm contribuido de forma inquestionável para manter o Carnaval, tem que ser reconhecido, louvado e valorizado. Mas há momentos em que determinadas funções têm que dar um passo em frente, e profissionalizar-se (desde que não estejam à beira do abismo).
O Carnaval da Bairrada é um evento conhecido e uma marca construída ao longo de anos e que, apesar de muitas trapalhadas pelo meio, foi ganhando o seu espaço. Quanto pagariam determinados locais para ter eventos com esta projecção. Quanto custará promover novos eventos e trabalhar o marketing de cidades. Veja-se Óbidos que criou 3/4 eventos por ano (Festa do Chocolate, Vila do Natal...) e o investimento que foi feito. E o retorno? Parece-me que resultou!
Para mim, o mais constrangedor é a aparente vontade de insucesso por parte de alguns, como quem espera a oportunidade de dizer "eu bem disse, eh eh eh! Ninguém me quer ouvir!!"! Antes ajudassem. Ao menos na promoção pelos seus amigos/conhecidos, e a coisa poderia resultar melhor. O que se espera agora é que a ACB aproveite esta participação das escolas para iniciar a promoção da festa de Setembro e porque não já a do próximo ano?
Se este ano não correu tão bem, há que analisar o porquê e tentar melhorar esses aspectos, porque quanto a mim, o Carnaval de Verão é para repetir. Penso que se as coisas forem bem feitas, será um sucesso. Penso que se a ACB tiver a humildade para aprender com os erros, tornará o Carnaval cada vez melhor.
Deixo aqui duas propostas para tentar melhorar o Carnaval:
- Avaliação por um júri competente das apresentações das escolas, à semelhança do que já é feito no Carnaval do "Entrudo", com reconhecimento e prémios para as escolas;
- Começar a reflectir na utilização de um espaço que permita que os corsos se realizem sem os problemas tradicionais e que se repetem ao longo dos anos (músicas misturadas, espaço limitado, atrasos constantes,...), e servindo melhor quem nos visita, nestas alturas, visto que estes devem ser a preocupação principal da ACB, pois o Carnaval é feito para eles, e sem eles o Carnaval deixa de fazer sentido. Estou a falar dos espectadores do Carnaval. Para suportar esta proposta, proponho que se estude as vantagens e as limitações da utilização da estrada nacional n.º 1 (entre Intermarché e rotunda do Luso há espaços em que será possível realizar o corso), ou aproveitar a estrada do Luso, o que permitiria a instalação de várias bancadas ao longo de todo o cortejo.
Estas iniciativas, mesmo que sejam falhadas, são muito melhores do que ficar parado à espera que o sucesso caia do céu!

2 comentários:

Pedro Costa disse...

Olha que é verdade, Pedro.
Eu avisei.
E com tempo.
E nunca aconselhei a não o fazerem.
E nunca me ri. Nem antes nem agora.

Pedro Paiva disse...

Nunca pensei em ti quando estava a escrever este post, pensei em pessoas com responsabilidades me deixam sempre a ideia de que estão a fazer figas para que as coisas não corram bem, para poderem então dizer, "eu bem avisei".
Continuo a considerar que pode ser um projecto de sucesso.
Abraço