Quando alguém escreve
magistralmente sobre um tema, o melhor é ler sem fazer grandes comentários...
Seguir as suas propostas e fazer os exercícios que nos propõe é a melhor
maneira de diagnosticarmos a nossa relação com os nossos filhos... Cuidado! É
potencialmente devastador e pode marcar um ponto de viragem. Eu vou fazer já!
Texto de Rute Agulhas, in DN -
27/03/2019
Vivemos todos uma vida
acelerada e sem tempo para nada. Ou melhor, sem tempo para aquilo que deveria
ser o mais importante, essa é a verdade. E de entre as várias coisas para as
quais não temos tempo, brincar com os nossos filhos assume-se como uma delas. Talvez
mesmo a principal.
Proponho que façamos todos
um breve exercício que, prometo, não irá demorar mais do que cinco minutos.
Pegue numa folha branca e
desenhe um círculo. Depois, divida esse círculo em cinco fatias (como se fosse
uma pizza), relativas ao tempo médio despendido com a família, apenas com os
filhos, no trabalho, com amigos ou em actividades de lazer, e em outros
contextos.
Já está? Certo.
Desenhe agora um segundo
círculo, relativo apenas ao tempo despendido com os seus filhos. Divida este
círculo em quatro fatias, relativas ao tempo que, em média, ocupa com as
rotinas (p. ex., banho, refeições), a ensinar (p. ex. trabalhos escolares), a
brincar (brincadeira pura e dura) ou sem qualquer tipo de interacção (p. ex.,
as crianças estarem a ver televisão ou a brincar sozinhas).
Agora que terminou ambos os
círculos, observe com atenção e reflicta. O que pensa? O que sente? O que
gostaria que fosse diferente? O que pode fazer para mudar?
Este exercício tem como
objectivo ajudar os pais a tomar consciência de quão pouco tempo passam a
brincar com os seus filhos, sendo que a interacção lúdica se assume como
especialmente importante para o desenvolvimento de vínculos afectivos. Este
tempo de interacção, que diversos autores chamam de “tempo especial”, permite
não apenas fortalecer os vínculos afectivos, como também potenciar a
aprendizagem através do brincar. É através da actividade lúdica que a criança
apreende e aprende, que interage com os outros e com o mundo. A projecção e o
jogo simbólico permitem desenvolver competências muito diversas, como a
empatia, a capacidade em tolerar a frustração e a resolução de problemas. É
através da brincadeira, também, que a criança comunica aquilo que pensa e
sente. Que se relaciona com os outros e, ao mesmo tempo, que se organiza dentro
de si própria.
Desejamos muito que os
nossos filhos nos sintam como pessoas de confiança, a quem possam recorrer se
precisarem de algum tipo de ajuda. Queremos ser os seus confidentes e guardiões
dos seus segredos. Para isso, é preciso tempo de interacção. Brincar com eles
ajuda.
Após este exercício,
desafio os pais a criarem tempos especiais, em que devem brincar com os seus
filhos. Sem estarem particularmente preocupados em que aprendam algo, mas
“apenas” brincar. Bastam 10 a 15 min, diariamente ou a cada dois dias. Para as
crianças, garanto que serão os minutos mais preciosos do dia.
Vamos experimentar?
(Já agora, e que tal
reflectir sobre as outras fatias do tempo?).
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