A Cristina Nobre Soares já deve ter perdido um amigo...
E deve ter sofrido...
A mim também já aconteceu...
E custou como o caraças...
Caso contrário, não conseguiria escrever este tratado de meia dúzia de palavras, mas de alcance imensurável:
Artigo original em: A amizade é uma coisa mariquinhas
Transcrevo aqui... Merece!
"A amizade é uma coisa mariquinhas
O amor não compreendido é tolerado, se fores trocado as pessoas têm pena e tal e dizem: "Paciência, um dia encontras o amor da tua vida". Mas ninguém diz, paciência, um dia encontras o amigo da tua vida. Chorar a perda de um amigo é coisa de gente mariquinhas
Texto de Cristina Nobre Soares • 06/09/2016 - 12:06
Há uns tempos, li um artigo, salvo erro no PÚBLICO, sobre o tabu que é perder um amigo. Pois é, perder um amigo é um tabu e é tramado. Porque nem sequer tem classificação possível. A amizade é uma coisa que vive num limbo que ninguém sabe bem o que é. É família sem sangue, é casamento sem sexo, é enriquecer sem dinheiro. Com um amigo falamos sem maquilhagem (da metafórica e da outra), com um amigo temos as tripas todas e não apenas coração, como nos filmes.
Com um amigo choramos baba e ranho até ficarmos com olhos de garoupa, limpamos o ranho com as costas da mão e não faz mal, porque um amigo a sério não tem olhos, só tem ombros. Com os amigos dizemos palavrões e não parece mal: foda-se é coisa que só fica bem quando estamos com amigos, mas amigos a sério. Se quando dizemos foda-se soa a cinema português da década de 70, então é porque não estamos entre amigos.
Mas o pior é quando perdemos esse amigo. Porque toda a gente compreende a dor de corno. O amor não compreendido é tolerado, se fores trocado as pessoas têm pena e tal e dizem: "Paciência, um dia encontras o amor da tua vida". Mas ninguém diz, paciência, um dia encontras o amigo da tua vida. Chorar a perda de um amigo é coisa de gente mariquinhas. Até porque se te zangas com um amigo as pessoas pensam que alguma coisa deves ter feito. No amor a culpa é sempre do outro, no amor há sempre um cabrão e um coitadinho. Na amizade não. Na amizade somos estupidamente iguais. Na amizade ninguém te põe as malas à porta, não há telefones desligados a meio da conversa, não há discussões de meia noite, de janela aberta com a vizinhança toda a ouvir. Não. Só há silêncio, mas daquele fininho. Não há cegueira, só uma espécie de querer ser cego para não ter de falar quando nos cruzamos na rua. Só porque já não temos nada para dizer. Perder um amigo é isso, é um vazio que dói como o caraças. É acontecer-te uma coisa boa e pensares que queres contar a essa pessoa e já não podes. No fim da amizade, não te põem as malas à porta, pois não? Porque o que dói mesmo é que no fim da amizade só há porta."
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