E se a sobrevivência for, afinal, do mais amigável e não do mais forte? * Visão

Foto: Eva Blue, in unsplash

Sempre acreditei que, a longo prazo, não é o mais forte que é o mais bem sucedido, mas a pessoa agradável, prestável e que consegue criar relações positivas. Este artigo da Visão vem aumentar a convicção nestas crenças:

"A teoria da evolução das espécies assume a sobrevivência do mais forte e a interpretação comum das palavras de Charles Darwin é de que as espécies mais resistentes tenderiam a sobrepor-se às mais fracas. Mas e se as palavras de Charles Darwin tiverem sido distorcidas e se a sua mensagem tiver sido mal interpretada?

Os cientistas Brian Hare e Vanessa Woods, investigadores do Centro de Neurociência Cognitiva da Universidade de Duke na Carolina do Norte, EUA, acreditam que a força não foi o fator predominante que fez com que se desse a evolução de espécies que culminou no mundo como o conhecemos hoje.

O novo projeto de ambos, o livro “Sobrevivência do Mais Amigável: Compreender as Nossas Origens e Redescobrir a Nossa Humanidade Comum” propõe que as amizades e parcerias amigáveis tiveram um papel crucial e garantiram a evolução de espécies durante séculos.

Os autores defendem que espécies vingam no mundo através da simpatia, da cooperação e da comunicação – e dão vários exemplos para o demonstrarem.

“A sobrevivência do mais forte, que é o que todos têm em mente quando ouvem “evolução” e “seleção natural”, causou mais dano que qualquer outra teoria”, diz Hare. “As pessoas pensam na sobrevivência como o homem alpha que merece vencer. Não foi isto que Darwin sugeriu, ou o que se tem vindo a demonstrar. A estratégia mais eficaz na vida é a amigabilidade e cooperação, e é isso que observamos uma e outra vez.”

Os nossos leais companheiros cães são a prova disso mesmo. Lobos e humanos viviam e caçavam próximos uns dos outros. Habituados à presença humana, estes animais começaram a perder o medo que tinham e começaram a aproximar-se do Homem. Ao longo de várias gerações, perderam algumas das suas qualidades de predadores e passaram a conviver lado a lado com aqueles que anteriormente aterrorizavam.

“Infelizmente, os seus parentes próximos, os lobos, encontram-se ameaçados nos poucos sítios onde ainda habitam enquanto que existem centena de milhares de cães. Os cães são o bando de lobos que decidiram confiar nos humanos – em vez de caçar – e esse bando saiu vitorioso”.

Este sistema de cooperação é bem visível em várias espécies: as plantas com flor, por exemplo, fornecem alimento e energia e os animais tornam-se num transporte do pólen.

Os autores do livro estudaram também, dentro do mundo animal, os bonobos, uma espécie de primatas muito confundida com chimpanzés, mas que na realidade é muito diferente.

Os chimpanzés são lutadores natos, sempre prontos para a confusão. Os machos assumem o comando e podem tornar-se extremamente violentos, chegando mesmo a matarem-se uns aos outros. Por outro lado, os bobonos são liderados por fêmeas e são mais pacíficos. São generosos por natureza e retiram prazer ao partilharem os seus mantimentos com outros bonobos, ao contrário dos chimpazés que se tornam mais egoístas à medida que envelhecem.

Ao falar da reprodução, Hare explica que “o bobono macho mais amigável é mais bem-sucedido do que o chimpazé mais antipático”. Os bobonos acabam assim por terem mais descentes que os chimpazés – a simpatia revela ser uma mais-valia para a reprodução.

E para os humanos? O preceito é o mesmo. Para que continuemos a evoluir com sucesso, temos de ser uns para os outros, devemos abandonar um pensamento egocêntrico e de pensar somente no nosso bem. Temos de contemplar as necessidades do próximo. “Vencemos ao cooperarmos e ao trabalharmos em equipa. A nossa capacidade de comunicação permite-nos resolver o mais complexo dos problemas.”"

Os Amigos Nunca São para as Ocasiões


"Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.

A decadência da amizade entre nós deve-se à instrumentalização que tem vindo a sofrer. Transformou-se numa espécie de maçonaria, uma central de cunhas, palavrinhas, cumplicidades e compadrios. É por isso que as amizades se fazem e desfazem como se fossem laços políticos ou comerciais. Se alguém «falta» ou «não corresponde», se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como «mau» amigo e sumariamente proscrito. Está tudo doido. Só uma miséria destas obriga a dizer o óbvio: os amigos são as pessoas de que nós gostamos e com quem estamos de vez em quando. Podemos nem sequer darmo-nos muito, ou bem, com elas. Ou gostar mais delas do que elas de nós. Não interessa. A amizade é um gosto egoísta, ou inevitabilidade, o caminho de um coração em roda-livre.

Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objectivo. É impossível lembrarmo-nos de como é que nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vamos ter.
A glória da amizade é ser apenas presente. É por isso que dura para sempre; porque não contém expectativas nem planos nem ansiedade."

Miguel Esteves Cardoso, in 'Explicações de Português'

A lesma que queria ser caracol

Imagem em: Escola Britannica


Uma lesma andava a passear pela horta do dia e andava cabisbaixa. Não era feliz com a sua vida, porque queria ser caracol.
Nesse mesmo dia, ao fim de vaguear por umas horas, encontrou uma lâmpada caída no chão. Não era uma lâmpada qualquer, era a lâmpada onde vivia um génio da lâmpada.
A lesma, cheia de curiosidade, esfregou a lâmpada para ver se era mesmo verdade e havia génios naquelas lâmpadas, tão raras de encontrar. Saiu de lá um enorme génio que lhe disse:
- Lesma, tens 3 desejos. Estou a aguardar!
A lesma, apanhada de surpresa e com a sensação que o génio estava com pressa, disse:
- Quero uma couve verde, fresca e grande, uma couve coração de boi, para saborear; e a couve apareceu, com um aspeto delicioso... nham nham...
Depois daquele impulso inicial, disse ao génio:
- Quero couves para a vida inteira... Todos os dias uma folha destas...
O génio respondeu: - Desejo concedido.
O seu 3.º pedido, ainda mais ponderado, quis aquilo que desejava desde pequena, que era ser um caracol. O seu desejo foi concedido e apareceu uma casa às suas costas. Espetacular, magnífico, maravilhoso... o desejo de uma vida cumprido. Descansou na sua nova casa com um sono cheio de sonhos fantásticos.
No dia seguinte foi passear e encontrou um pinto da costa. Para sua sorte, agora era um caracol. Escondeu-se na sua casca dura enquanto o pinto da costa lhe dava fortes bicadas. Bicou, bicou, bicou até que perdeu o fôlego e foi embora.
Feliz e contente, o caracol que tinha sido lesma, foi para outra horta passear...
Mesmo não tendo necessidade de procurar novas couves.

P&T