A Caminho de Santiago i)

 


O Caminho de Santiago

    Fazer o Caminho de Santiago (CS) é um objetivo que já estava definido há algum tempo.

A experiência anterior

    O ano passado, no Verão, fizemos um CS diferente. Guiado por pessoas do IESh (Instituto Eneagrama Shalom), nomeadamente pelo Domingos e pelo Afonso, aproveitamos o encontro entre os elementos do IESh de Portugal e do Brasil, para fazermos o CS. Um CS com bastante introspeção, com o aprofundar do conhecimento sobre a história associada aos CS e com bastante convívio entre as pessoas dos dois países. Também foram selecionados percursos para fazermos e terminamos em Finisterra (quem faz o CS deverá ponderar ir a Finisterra).

No entanto... haja fases

    No entanto, continuava em cima da mesa o objetivo por cumprir de fazer o CS da  forma clássica: a pé e ficando nas povoações que fazem parte do CS.
    Dividimos em várias fases, para assegurar que há disponibilidade e não há impacto na vida profissional. Assim, a primeira etapa foi entre Coimbra e Albergaria a Nova e está feita. Numa segunda fase iremos até ao Porto, uma terceira fase, será entre o Porto e a fronteira com Espanha e, a fase final, será o percurso do CS em Espanha. 

1.º dia: Coimbra * Mealhada

    Partimos com entusiasmo e vontade de andar. A zona entre Coimbra e Mealhada é a zona onde vivemos, por isso é uma zona familiar. No entanto, viajar a pé, fazem com que se consiga perceber muitos pormenores que várias passagens de carro não o permitem. No final do dia o cansaço era evidente. Nos primeiros 5 a 10 Km ainda falávamos dos problemas do dia a dia. Aqueles que deviam ficar para trás. O CS tratou de fazer com que o nosso foco fosse outro... os pés, as pernas, o sol, as costas, a paisagem natural... tudo ajudou a sair dos problemas do dia a dia e por volta das 16h, chegámos à "Sala de Jantar da Europa".
    Ao fim do dia o banho quente, as pomadas, os pés descalços e o descanço foram fundamentais para a recuperação. 
    Sabem o que mais foi fundamental? Uma noite bem dormida. Nestas situações de esforço físico, é mais fácil ter a consciência de como o sono nos ajuda a recuperar. Ao fim do dia doía-me muita coisa, de manhã estava recuperado. Isto é um milagre. 

2.º dia: Mealhada * Águeda

    Saímos da Mealhada e passamos por Anadia, Avelãs de Caminho, Aguada de Baixo e chegámos a Águeda. Paisagens bonitas e pacificadoras. Conseguimos recuperar as dores do dia anterior e com maior intensidade. Sentar é um sacrifício enorme, não pelo ato de sentar, mas pela futura necessidade de nos levantarmos. Mas terminamos com um gelado em Águeda, nas suas ruas animadas por guarda-chuvas e fomos descansar. Banho quente, mais cremes e pomadas miraculosas, mais dores e a pergunta sobre como estaríamos no dia seguinte. Ainda consegui ver o jogo da Supertaça (Porto vs Sporting), mas quando o resultado estava 3-3, apaguei.

3.º dia: Águeda * Albergaria a Nova

    Neste terceiro dia, saimos de Águeda que é turística no Centro, com muita arte urbana e com espaços cuidados e, à sua volta, tem uma imensa cintura industrial, que reflete o que mais se associa a Águeda: a sua capacidade e desenvolvimento industrial. Neste dia, o ritmo já foi mais lento e as  dores apareceram mais cedo. Passámos por várias popvoações, entre as quais Macinhata do Vouga, que tem umas casas interessantes e chegámos a Albergaria a Velha . Deparámos com uma terra bonita e bem cuidada, e que se nota que está há muito tempo envolvida neste processo de peregrinações. Neste 3.º dia, provavelmente por ser domingo, havia mais cafés, comércio e restaurantes fechados. 
    Fiquei com pena por termos de sair  da Estrada Real, porque a ponte caiu (via-se a plataforma da ponte sem uma parte do meio). Gostaria que fizessem uma ponte pedonal para evitar fazer a IC2, pois foi o troço de caminho mais desnecessário. É caminhar numa estrada só com carros e camiões e apanhar com todo aquele fumo. O CS feito até aí, teve pouco desto "modo fumo". 
    Chegámos a Albergaria a Nova pelas 16h e demos por terminada esta primeira etapa. Curiosamente, ao fim deste terceiro dia, senti que havia menos dores. Parece que o corpo se começava a habituar. Apesar de tudo, foi um dia com menos conversa e mais introespetivo.

Fim da 1.ª fase:

Encontramos poucos peregrinos pelo Caminho. Alguns iam para Fátima, outros para Santiago. A maior parte estava a fazer os caminhos de bicicleta. O calor talvez o justifique. Todos se cumprimentam e surge uma ou outra conversa com os peregrinos.
    As pessoas pelo CS são prestáveis e ajudam como sabem e podem, dando conselhos ou sugestões, ou simplesmente desejando Bom Caminho.
    Gostaria que os CS tivessem menos eucaliptos. Quando falamos em Mata, Floresta ou Bosque, estamos a falar de áreas enormes cheias de eucaliptos. Vêm-se poucas árvores de outras espécies. E se fizermos a experiência de descansarmos à sombra de um eucalipto ou à sombra de um carvalho, a sombra do carvalho é mais fresca e à sua volta o ecossistema tem mais vida. O eucalipto seca os terrenos à sua volta e não se vê vida.
    Nos dias seguintes a esta etapa, em estrada, apercebi-me de muitos peregrinos na sua jornada para Fátima, no IC2. Não sabem o que perdem por irem no asfalto e não usufruirem do que proporciona o Caminho feito por estradas secundárias e pelos bosques. 
    Já estamos a preparar com entusiasmo a próxima fase, embora ainda não haja datas marcadas.

Até lá, Bom Caminho!

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